Autor
Nova Acrópole
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Nova Acrópole
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Comentário ao estudo “Landscape and Astronomy in Megalithic Portugal: the Carregal do Sal Nucleus and Star Mountain Range” de Fabio Silva
Depois de uma introdução geral no contexto da teoria arqueológica comum acerca dos megálitos do mondego, e da fundamentação da datação através do radiocarbono (com os seus evidentes problemas por se associar a data das pedras à data dos resíduos orgânicos lá encontrados), o estudo volta-se para a arqueoastronomia.
O azimute é um dos dados principais que se procuram recolher num estudo arqueoastronómico, que se refere ao que comummente se chama orientação, ou a direcção horizontal do espaço, contada normalmente em relação à direcção norte.
Como o estudo explica, existem diferentes métodos para determinar o azimute, segundo cada um dos quais se obtém diferentes resultados. Este problema é tanto mais premente quanto mais geometricamente irregular for o monumento em estudo.
O método escolhido por Fábio Silva foi o de encontrar a “janela de visibilidade”, de modo a comparar os
dados obtidos com estudos anteriores em que apenas se obteve a “orientação média”.
Para além do azimute, a altura do horizonte é também muito importante, pois é da combinação destes dois factores que podemos determinar que estrelas visíveis estão alinhadas com o dólmen. Quando o horizonte é o mar, são visíveis mais estrelas na direcção de um dado azimute do que quando estamos perante uma montanha. Se o objectivo destas construções, foi o de visualizar a partir do interior do dólmen, o aparecimento de uma estrela no horizonte, o azimute teria que aumentar na mesma medida que a altura do horizonte.
A partir do azimute e da altitude, pode obter-se um outro valor que é a declinação. Este valor é importante principalmente porque cada estrela percorre um caminho no céu sempre na mesma declinação, e há muitas estrelas para cada declinação. Isto é útil para saber que estrelas poderiam ser observadas em cada monumento.
Quando se faz um gráfico das orientações dos dólmens da região do mondego, em que a altura da curva depende do número de dólmens para cada declinação, pode concluir-se que há importantes diferenças com o mesmo gráfico baseado em dólmens de outras regiões.
Enquanto os dolmens de outras regiões apresentam um pico bem definido na declinação de uma Lua Cheia próxima do equinócio de Outono (linha verde), nos dólmens do mondego já não há tanta definição. No mondego, há vários picos com altura semelhante, podendo corresponder à zona da Lua Cheia mais próxima do Solstício de Inverno, ou ao surgimento do Sol no mesmo Solstício (actualmente).
Na imagem acima está representada a facha de horizonte que é visível desde a câmara do dólmen de Orca de Santo Tirso, cuja montanha pertence à Serra da Estrela, olhando para uma direcção próxima do Este.
Como a facha representada não aponta para um marco solar ou lunar significativo, foram procuradas as estrelas que podiam estar naquela declinação na altura em que se pensa terem sido construídos os dólmens, cerca de 4000 a.C..
É interessante que quatro dólmens da mesma zona apontem para o mesmo ponto no horizonte da Serra da Estrela. Segundo os cálculos, apenas duas estrelas nasciam nesse ponto cerca de 4000 a.C., que são Betelgeuse e Aldebaran, da constelação de Orion e de Touro, respectivamente. Ambas as estrelas, vermelhas a olho nu, são as mais brilhantes da sua respectiva constelação.
Acontece que nestas estrelas de pequena declinação, ou seja, próximas do equador celeste, há um período do ano em que elas não nascem durante a noite, e portanto esse momento não é visível. Fábio Silva calcula o dia em que as estrelas voltariam a estar visíveis depois do período de invisibilidade: no fim de Maio para Betelgeuse, e no fim de Abril para Aldebaran.
Por Aldebaran aparecer um mês mais cedo que Betelgeuse, Fábio Silva aponta a primeira estrela como aquela que os pastores daquela altura utilizavam para marcar o seu calendário sazonal.
Depois disto, o autor recorre aos mito do surgimento do nome Serra da Estrela, tentando fazer uma relação com a estrela Aldebaran.
Fábio Silva diz que este mito corrobora a sua tese de que os pastores utilizavam os dólmens com fins de marcação sazonal. O que parece não ser conhecido por Fábio Silva, é que o pastor leva consigo um cão, e que a estrela brilhante que ele seguiu pertencia à constelação de Touro. A mim parece-me evidente a relação entre Orion (o pastor), que vem acompanhado por Cão Maior (cão da serra da estrela), que por sua vez acompanham o Touro (o gado até ao cimo da montanha?). Portanto, além da interpretação terrena da actividade pastoril, parece haver aqui uma interessantíssima relação da vida humana com a vida celeste, representada nas constelações.
Convinha dar muito relevo à figura do dolmen que é a base de tudo
… Como conta a lenda, o pastor que passava as noites a contemplar uma brilhante estrela no céu (Albaran é a 9ª mais brilhante visível do hemisfério norte) decidiu um dia ir até ao topo da montanha para a ver melhor, levando para isso o seu fiel cão de estimação. Chegando lá cima, o pastor reconheceu que aquela serra era favorecida pelos astros, dando-lhe o nome de Serra da Estrela…..
Henrique Cachetas
Director Nova-Acrópole Braga